Escrito por: Pedro Rubens
O ato de despedir-se é das coisas mais dolorosas que enfrentamos durante a vida. Não é fácil dizer adeus a algo ou alguém que você se acostumou com a convivência, compartilhou histórias, cresceu mas que agora precisa ir. Nas telinhas isso também precisa acontecer e mesmo sendo ficção, dizer adeus continua sendo doloroso.
Ozark, série original Netflix que acompanhava as aventuras da família Byrde trabalhando para um poderoso cartel mexicano enquanto precisava lidar com a família Langmore, que constantemente cruzava seu caminho. Entre trancos e barrancos, tiro, porrada e muita lavagem de dinheiro, os caminhos se cruzaram pela última vez e finalmente assistimos o desfecho da história iniciada em 2017.
Dividida em duas partes, a temporada final se propõe desde o seu primeiro episódio a fechar as pontas que estavam em aberto após o terceiro ano do show. Inclusive, dado o desfecho da terceira temporada, parecia até impossível de imaginar qual caminho trilharia a partir de então. Mas Bill Dubuque e Mark Williams, criadores da série, sabiam exatamente onde queriam chegar e a estrada a percorrer!
Milimetricamente pensado, o roteiro não perde o fio narrativo em momento algum, seja encerrando ciclos ou iniciando enredos que culminaria no desfecho de alguns personagens principais. A opção de dividir a temporada final em duas partes parecia desnecessária até que os episódios saíram e, de tão densos, tornou-se compreensível a decisão.
Mas nem só de criação brilhante e roteiro bem trabalhado se sustenta uma série. Ozark tem um elenco que não criou raízes na pequena cidade que dá nome a série! Absolutamente todos demonstram tamanha naturalidade que mais parecem nativos que estavam sendo filmados no seu cotidiano.
Das cenas onde a corrupção era escancarada às crises familiares, a entrega era tanta que ficar na beira do sofá e prender a respiração por milésimos de segundos se tornou habitual. No misto de emoções proporcionados pela produção, vamos rapidamente do ódio/repulsa à pena e assim seguimos por longos episódios que compõem os últimos episódios.
Mas Jason Bateman, Laura Liney, Julia Garner são os pilares da série. Todos os demais atores que compõem o elenco permeiam entre eles, mas o que esses 3 nomes supracitados fazem é algo surreal, absurdamente impecável e não deixam a menor brecha para críticas negativas.
Não bastasse tudo isso, Ozark ainda tem uma direção de fotografia muito peculiar, projetada exclusivamente para a série através de uma colorimetria que corrobora com a frieza dos momentos vividos na cidade, através da tonalidade azul e cores frias, ou no contraste através de cores mais quentes, avermelhadas, nas cenas fora da cidade, onde há mais ação, cartéis e corrupção.
Por mais que o caminho percorrido aparentemente tenha sido fácil, afinal haviam mentes brilhantes por trás desse projeto, a série demonstra muita tristeza ao dizer adeus. Isso fica evidente no texto minuciosamente escrito para a última leva de episódios, onde os personagens conversam entre si e falam sobre dizer adeus, reverberando o que de fato a série queria dizer para muito além da ficção.
Ozark chegou de mansinho e na surdina fez barulho. Falou sobre muita coisa, seja no aspecto real ou fictício, mas talvez, de tudo o que nos tenha ensinado, o principal seja sobre a necessidade de saber dizer adeus na hora certa e da forma certa. Fica o legado de uma das maiores e melhores séries já produzidas pela Netflix, que em momento algum perdeu o fio da meada e nem tampouco titubeou.
Adeus Ozark!
Nota: 9.04
Eu amei essa série. Comecei a ver quando ninguém nem sabia da existência.
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