Escrito por: Pedro Rubens
Por muito tempo havia dualidade entre comédia e drama. Eram dois gêneros que não se cruzavam, estavam em posições totalmente opostas e funcionavam muito bem de forma isolada. Mas, e quando a comédia se junta com o drama, qual o rumo que os acontecimentos tomarão? Saber adaptar uma narrativa cômica com pitadas dramáticas não é para todos, mas é algo que aqui vemos com maestria.
Ted Lasso, aclamada série da Apple TV e ganhadora de diversos prêmios, incluindo o Emmy de melhor série de comédia, começou seu segundo ano continuando as aventuras de um técnico de futebol que mal entende as regras do esporte mas que, com muito carisma e paixão pelas pessoas e pela vida, consegue transformar beneficamente o espaço onde está e as pessoas ao seu redor.
Se na primeira temporada temos apenas vislumbres de drama, pelo conturbado enredo do protagonista, que encarava um divórcio enquanto precisava ir para o outro lado do mundo e ficar longe do filho; agora mergulhamos profundamente em temáticas como ansiedade, depressão, amizade, paixão, racismo e propósito de vida. A mescla entre comédia e drama funciona como duas engrenagens que se complementam de forma perfeita, sem nenhuma ranhura a mais ou a menos, fazendo a série girar e avançar grandiosamente.
Com mais episódios que no primeiro ano, Ted Lasso tinha um arco proposto para essa segunda temporada e o conclui com maestria. Se o último filme de Thomas Vinterberg, Druk, nos mostra as consequências do alcoolismo sob a ótica de 4 amigos, Ted Lasso faz uma leitura psicológica na perspectiva dos 4 técnicos do AFC Richmond, bem como dos jogadores do time.
A linguagem psicoemocional está presente a todo momento, seja através do fatídico acontecimento envolvendo Dani Rojas já no primeiro episódio, ou os problemas conjugais enfrentados por Roy e Keeley, assim como o contexto familiar da Rebecca e as inúmeras camadas que são adicionadas a este personagem, com um trabalho muito mais do que impecável da grandiosa Hannah Waddingham.
As atuações permanecem incríveis, como é o caso do ator Jason Sudeikis, que encarna um personagem machucado e com feridas do passado. Ou pelo Nate, personagem amado na primeira temporada mas que, por não buscar ajuda, acha que por si só poderia conseguir superar as dificuldades, indo de uma vez por todas para o fundo do poço, ainda que acredite estar finalmente na sua melhor versão.
Mas preciso destacar o brilhante episódio, considerado por muitos como filler, em que entramos na cabeça do técnico Beard e percebemos as rachaduras que compõem aquele cara sério e introspectivo. Este episódio, além de agregar na narrativa do personagem, é uma aula de semiótica e de como metaforizar situações, vide o caso do personagem perdendo constantemente a chave do lugar que é sua zona de conforto.
Por outro lado, temos Roy que não apenas reconheceu que precisava de ajuda, mas buscou e encontrou o que precisava, tornando-se assim um dos melhores enredos dessa temporada. Isso se dá pelo roteiro afiadíssimo e muito bem preparado, que mantém o clima amigável, amável e carismático da primeira temporada, mas que ao inserir doses de drama, consegue sustentar o show enquanto abraça o público com uma história palpável.
No final das contas, a série funciona como uma montanha russa, variando entre uma cena de comédia onde você solta uma gargalhada e na próxima se emociona com algum personagem. Essa quebra de expectativa não prejudica, em momento algum, o desenrolar da temporada, mas exerce o papel de encarnar e outorgar tudo o que a série já vem falando: a montanha russa de sentimentos vivida por alguém que passa por problemas como ansiedade e depressão.
Ted Lasso encerra sua segunda temporada avançando bem a história e já caminhando para o final, dando dicas do que pode suceder no seu último ano, mas deixando aquela sensação de saudade que sentimos quando um grande amigo vai embora e precisamos encarar a dor de não ter mais sua companhia. Mas uma coisa é certa: Ted Lasso sempre irá nos inspirar a acreditar, seja em nós mesmos ou no próximo.
Nota: 9,13
E o menino Rubinho continua fazendo tudo < 3
|
0 0 0 |
Belo texto! Fez jus à temporada MARAVILHOSA que foi essa 2a de Ted Lasso.
|
0 0 0 |
Maravilhosa! (A série e a crítica)
Ted Lasso me encantou! É possível chorar enquanto a gente ri. O drama e a comédia estão perfeitamente dosados os personagens muito bem construídos.
|
1 0 0 |