Escrito por: Pedro Rubens
Tem um certo ditado que levanta um questionamento minimamente interessante: A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Essa pergunta poderia abrir um leque gigantesco de respostas, mas esse não é o foco, o importante é pensar em como a arte, e aqui falo de produções televisivas ou cinematográficas, por vezes esquece de tratar personagens com a mínima decência e segue a mesma fórmula que anteriormente deu certo.
Kevin Can F**k Himself se propõe a apresentar o “Lado B” das séries, aquilo que as sitcoms não mostram: a história das esposas que são lindas, inteligentes e com enorme potencial. Mesmo diante de tudo isso, tornam-se coadjuvantes no arco dos protagonistas machistas, arrogantes e indisciplinados, mas que por ser engraçado termina por ser o centro das atenções.
A brilhante criação de Valerie Armstrong trabalha perfeitamente bem o roteiro, ao repetir a fórmula das sitcoms e entregar cenas clássicas como a do marido que prefere soltar uma piada constrangedora na frente dos seus amigos só para ser o “maioral”. Isso é interrompido ao apresentar a saída da personagem e mudar completamente a perspectiva da série, tanto com uma fotografia mais fechada na personagem quanto pelo aspecto mais sombrio.
Esse entrelaçamento só é harmonioso pela equipe de montagem que trabalha de forma maestral ao intercalar as cenas do que seria a sitcom e em seguida quebrar a expectativa apresentando a triste vida da protagonista, muito bem vivida por Annie Murphy. Por vezes, inclusive, a própria série mostra uma terceira via onde a protagonista idealiza como seria sua própria sitcom e esse é um dos grandes acertos da série!
Abusando de personagens caricatos, o roteiro traz à tona não apenas a reflexão sobre machismo, casamento, família e sonhos para o futuro, mas evoca a necessidade de repensarmos aquilo que estamos consumindo no mundo das produções audiovisuais. Essa crítica, a série faz de forma muito bem feita, através da sagacidade da autora que inflama o público com diálogos ácidos e certeiros naquilo que pretende causar em quem está assistindo o show.
O episódio piloto de Kevin Can F**k Himself fundamenta a série e entra em contato com o público, criando um diálogo intimista e sincero sobre os rumos que pretende seguir durante toda a temporada. Por mais que você não seja adepto do gênero do humor, ou não goste de sitcoms, essa é uma produção que nos permite refletir sobre aquele ditado, citado no início do texto e repensar como agimos em sociedade: reproduzindo o machismo velado em tantas produções ou reconsiderando e reconhecendo a grandiosidade da mulher como ser social?
Nota: 8.0