Escrito por: Pedro Rubens
Há uma crescente quantidade de produções que, na busca por inovação, fogem da realidade e contam histórias deslumbrantes, muito além do imaginável e por vezes até de difícil compreensão. Nada disso é ruim, pelo contrário, sempre haverá público para esse tipo de produto, mas há algo de belo no ordinário, nas coisas simples e cotidianas que compõem a vida. Talvez, esse seja o tipo de inovação que buscamos e dificilmente encontramos com sucesso.
Generazione 56K, nova série italiana original Netflix, conta a história de três amigos que compartilham a vida desde a infância e seguem juntos até a vida adulta e traz a mesa a pauta dos relacionamentos e as suas consequências, seja no âmbito social ou no individual, a proposta é utilizar-se da metalinguagem para fazer o público refletir sobre o tema.
A série decide contar uma história das mais simples, sem muitos artifícios mas ao mesmo tempo aprofundando perfeitamente bem o arco do trio protagonista, dando espaço às suas respectivas histórias individuais, seja no âmbito familiar, com seus relacionamentos amorosos ou até no trabalho. Em tudo isso a série consegue adicionar novas camadas que agregam a narrativa e constrói um roteiro simples mas ao mesmo tempo robusto, completamente sustentado na vida cotidiana e o faz de forma muito coesa.
Isso se dá pela perfeita simetria que há na série ao intercalar os dias atuais com as memórias da infância, ao mostrar as aventuras e dilemas amorosos do trio composto por Lu, Sandro e Daniel, bem como na dupla de amigas Matilda e Ines, explanando com êxito a caminhada que trilharam até o período atual e como tudo isso moldou as pessoas que se tornaram, forjou o caráter de cada um e o quanto isso fortaleceu o laço que havia entre eles.
Por outro lado, a série também aborda as causas e feitos que o contexto familiar desencadeou individualmente nos protagonistas, vide por exemplo o arco de Matilda, abandonada pelo pai desde a infância mas utilizando-se das cicatrizes que ficaram para se erguer e seguir a vida de forma independente e sem encarar de frente aquela dor que ainda insistia em incomodar.
Ao escolher lidar com uma história ordinária, que não está tão distante da realidade e mostra de forma factual eventos que podem ocorrer com qualquer pessoa, a direção da série trabalha de forma equilibrada por não ir segundo o viés caricato e trazendo a leveza da simplicidade ao apresentar personagens que nos permitem identificá-los muito facilmente em pessoas que estão no nosso entorno, muito próximo de cada um de nós.
Na perspectiva de outorgar a sua mensagem, há uma intensidade de cores que trazem vida para o show e pintam um belíssimo quadro multicolorido que atrelado a trilha sonora formam um conjunto sincronizado de fatores benéficos durante os 8 episódios ativando o modo nostálgico daqueles que viveram os anos 90 e 2000, abraçando-os e aquecendo o coração com aquela sensação de estar finalmente na sua zona de conforto.
Generazione 56K é daquelas séries que chegam sem alvoroço, com pouca divulgação mas que alegra a alma, nos incentiva didaticamente a refletir sobre as relações interpessoais e para com o próprio eu. Mas acima de tudo, é uma série que vai nos fazer querer abraçar aqueles que amamos e agradecer por poder compartilhar a vida com cada um deles.
Nota: 8.75