Escrito por: Edson Rafael
A Netflix tem investido mais e mais em lançar produções com temática natalina. Temos a trilogia de filmes de sucesso na plataforma, com a Vanessa Hudgen, e inclusive lançaram um filme com protagonistas gays e que aquece muito o coração: Single All The Way, ou, em português do Brasil, Um Crush para o Natal - eu indico demais, corre lá pra assistir. E mais recentemente vemos uma investida em conteúdo com produção em outros países, que não os Estados Unidos, como a minissérie sul-africana de comédia lançada em 2020 em três episódios “How To Ruin Christmas: The Wedding”, que fez certo sucesso e se transformou em uma série. Sim, agora se chama apenas “How To Ruin Christmas”.
Este ano de 2021, além de sair a segunda temporada da série mencionada acima, tivemos o lançamento de Christmas Flow, minissérie francesa original Netflix. Você encontrará na Netflix Brasil como Arranjo de Natal, o que não faz tão juz à série quanto o nome original, mas ok. Também em três episódios, esta comédia romântica traz um grupo de jornalistas feministas, Lila, Alice e Jeanne, denominadas Le Simones (As Simones), em homenagem à Simone de Beauvoir, famosa parisiense ativista política do feminismo do século passado. Juntas, elas produzem conteúdo informativo relacionado à igualdade entre homens e mulheres cada vez mais buscada nos dias de hoje, mas que não está conseguindo sustentá-las.
Lila, a protagonista, é uma jovem questionadora sobre os padrões de um feriado que há muito perdeu o seu real significado na grande massa. Transformado em mais uma passagem do ano para fomentar o comércio, trazendo cartazes com casais em propagandas, Lila critica firmemente esse tipo de divulgação, questionando se as pessoas não podem ser felizes sozinhas. Vemos aqui uma jovem não tão romântica, mas nem tudo é o que parece. Devido a uma confusão causada quando ela tenta ajudar uma moça sendo abusada por um segurança, ela é levada a uma sala para esperar a chegada de policiais. Quem entra nesta mesma sala para esperar um Uber? Marcus. Mas quem é ele?
Marcus é o nosso outro protagonista. Um rapper famoso e não só “cancelado” na internet, mas processado por uma música com teor muito, mas muito mesmo, ênfase no muito,(eu já falei que muito?) machista e degradante para as mulheres. Me recuso a reproduzir qualquer trecho aqui. Ele leva esse processo logo após receber um prêmio de música. Pois é!! A vida, ela não é fácil. Hahahaha. Circundado por fãs (ainda sobraram alguns) em uma loja e sem conseguir sair de dentro dela na véspera da véspera do Natal, ele é levado para a mesma sala de segurança onde Lila está. Temos o encontro dos nossos protagonistas, duas pessoas com ideias super diferentes sobre o mundo que vivem.
Marcus puxa conversa, Lila responde, se interessa, até descobrir quem ele é: Marcus, o rapper misógino. Vemos a decepção no seu rosto ao se deparar no mesmo ambiente do “tipo de pessoa” que ela mais rechaça. Faz questão de dizer que não gosta dele e sugere que ele veja o vídeo dela se quiser saber mais sobre o que ela pensa dele. Marcus não se recusa e vê, mas já longe dela, na segurança do seu carro, onde ele leva a sacola da Lila, trocada com a dele por engano (quer um clichê para o “mocinho” procurar a “mocinha” depois? Então toma). Ali está uma oportunidade de se redimir e refazer sua imagem perante à mídia: por que não investir em um conteúdo feminista para mostrar que não é misógino?
No dia do Natal, ele vai à casa dela para devolver a sacola e conhece a família dela. Aqui temos um ponto maravilhoso. A família da Lila traz um humor enorme e uma vivacidade pra série. Sua irmã, obcecada por Marcus, tem certeza que ele não tira os olhos dela, quando é o contrário que acontece. Sua mãe anuncia que pediu o vizinho em casamento e é altamente contestada pelas duas filhas, uma das cenas mais engraçadas e constrangedoras do episódio. Sua avó, aparentemente quem passou os ensinamentos feministas para a neta, acaba descobrindo a música do Marcus e o expulsando, pegando-o pelo colarinho dele e literalmente jogando-o para fora de sua casa (eu amei a avó, hahahaha). Muitas pessoas que o repulsam descobrem que ele se encontra no prédio de Lila e vão o esperar para fazer “Deus-sabe-o-quê” com ele, mas nada de bom. Ele é obrigado a voltar para a casa da Lila e a trama vai se desenvolvendo.
A pergunta que esta história quer responder é: duas pessoas com opiniões e princípios tão diferentes são capazes de ficar juntas? Eu não sei você, mas eu pago pra ver essa história se desenvolver.
Pontos positivos: Você consegue entender todo o plot que será desenvolvido em menos de 15 minutos de episódio; o humor francês é diferente mas bom; você aprende coisas como “apenas 2% das ruas de Paris são nomeadas homenageando mulheres”.
Pontos negativos: um clichê porque a gente já sabe que muitíssimo provavelmente os protagonistas acabarão juntos apesar das diferenças (mas não que isso seja totalmente ruim, eu adoro clichês quando eles funcionam); não dá pra defender o conteúdo produzido pelo Marcus de jeito algum, então não sei como eles desenvolverão isso.
Nota: 8.0