Escrito por Eric Leuthier
Em abril de 2019 estreava Ghosts, uma comédia britânica da BBC que arrancou elogios da crítica em seus primeiros episódios, garantindo imediatamente mais duas novas temporadas, na época. Meses após o encerramento do seu primeiro ano, a CBS notou o potencial da produção e encomendou uma versão estadunidense que só veio a estrear após quase dois anos.
Ghosts retrata a história de Samantha e Jay, um casal que herda uma mansão histórica que está caindo aos pedaços e é habitada por fantasmas de pessoas de diferentes décadas e séculos que morreram no local e estão condenados a passar a eternidade lá. Depois de sofrer um acidente, ficar tecnicamente morta por três minutos e passar duas semanas em coma, Samantha ganha a habilidade de conseguir ver e ouvir os fantasmas, enquanto seu marido não.
Por já acompanhar a versão original e gostar bastante dela, eu confesso que tinha medo do que a CBS poderia entregar nessa adaptação. Quando veio o trailer e eu notei algumas mudanças feitas, como a natureza de alguns personagens e o que leva Samantha a sua quase morte, fiquei ainda mais receoso e já gritava aos quatro ventos que uma grande bomba atômica estava vindo aí. Porém, como quase sempre na vida, eu estava errado. A essência dos personagens e os plots da série fazem diferença, claro, mas o que faz de Ghosts ser uma boa comédia é a dinâmica. Acredito que essa seja a palavra-chave que define a série e que esteve presente nesse episódio piloto.
No roteiro, é possível notar a dinâmica no desafio que é brincar com sacadas rápidas entre personagens que possuem estilos de vida diferentes e viveram em épocas completamente distintas da história, como na cena em que o fantasma viking Thorfinn chama um automóvel de “landship” enquanto a lady Hetty define o mesmo como uma carruagem. Mas acredito que um dos pontos altos da série seja a dinâmica que alterna entre os pontos de vista de Samantha e de Jay (ou qualquer outra pessoa que não vê fantasmas). Usar o mesmo enquadramento para alternar as óticas é um recurso que funciona muito bem na série e até me fez pensar em como seria legal assistir tendo a opção de escolher ver ou não os fantasmas através de um botão no nosso controle remoto.
É importante ressaltar que, mesmo sendo aparentemente uma comédia pastelona, a parte final, quando o escoteiro Pete fala sobre sua esposa, mostra que a série tem potencial para desenvolver o drama através da história de vida de cada um dos fantasmas. Esse recurso é utilizado de forma bem aproveitada ao longo das 3 temporadas da versão britânica e acredito que esse é um bom exemplo que pode ser seguido também pela CBS.
Normalmente olhamos com olhos atravessados para adaptações, principalmente quando já temos um vínculo afetivo com as obras originais. A gente fica com medo de que estraguem nossa série/livro/filme/HQ, manchando o histórico da franquia. Eu sei, eu também sou assim. Ainda bem que esse não é o caso de Ghosts. Se você já gostava da versão britânica, se permita ver a versão estadunidense sem medo. Se você ainda não conhece a série, te convido a pelo menos se dar o benefício da dúvida e ir além da experiência do episódio piloto.
Nota: 8,5