Escrito por: Pedro Rubens
Não sei se você já parou para pesquisar sobre as antigas radionovelas. Se sim, com certeza vai se apaixonar pela forma como as coisas eram produzidas, pelo minucioso cuidado em acrescentar tudo o que fosse necessário para levar o público para aqueles acontecimentos que estariam sendo contados. Admiro demais esse tipo de produção e confesso que gostaria de ter a experiência de acompanhar uma aventura desse tipo nos dias atuais.
Ridley Road, nova minissérie da BBC One, relata os acontecimentos de Londres, na década de 60, quando o fascismo advindos de uma extrema direita vem à tona e tenta sobrepujar a população. Seguindo os passos de Vivien Epstein, vivida por Agnes O’Casey, uma judia que precisa se infiltrar no partido fascista em busca de informações do paradeiro do seu grande amor.
A série segue a seguinte fórmula: a primeira cena já é ambientada no futuro, quando a personagem já está instalada em ambiente hostil e em seguida voltamos no tempo para o período em que a protagonista ainda morava com sua família. Nada de novo, afinal o roteiro do piloto consegue segurar as pontas e não deixar a peteca cair, mas isso se dá por algo muito especial.
Constantemente fica perceptível, quase palpável, o intuito de transformar Ridley Road em uma grandiosa homenagem às radionovelas, dado que aqui temos takes longos, com bastante diálogo e pouca, ou quase nenhuma, trilha sonora ambiente durante essas conversas. O silêncio ambiente, quebrado unicamente pela fala dos personagens ou em raros momentos de ação, quando um objeto ou outro é movimentado, evoca o aspecto rádio novelístico e aquece o coração de quem está assistindo.
Por mais que em alguns momentos seja cansativo ver diálogo atrás de diálogo, nos momentos em que a trilha musical surge como ponte para intercalar as cenas, conseguimos enxergar de forma cantada o pensamento da protagonista, enquanto ela simplesmente atua. Essa homenagem não soa forçada, muito pelo contrário, funciona brilhantemente bem!
A direção de Ridley Road está muito bem trabalhada, não deixa espaços vazios e extrai o melhor de todos os que estão em cena, principalmente no núcleo feminino apresentando mulheres grandiosas, fortes e irrepreensíveis. Infelizmente as cenas de luta podem aparentar problemas de coreografia, mas talvez até isso tenha sido de forma proposital para soar como algo anárquico, rebelde e desleixado.
Por se tratar de uma produção que se propõe a apresentar uma história baseada em eventos reais, existe toda uma preocupação com a forma que esses eventos serão descritos, e o roteiro demonstra esse trabalho exaustivo, minucioso, para entregar algo que não fuja da realidade mesmo com a adaptação fictícia para a TV.
Ridley Road me surpreendeu positivamente através de um roteiro muito bem planejado e cuidadoso. Mas sobretudo, a maior alegria foi perceber que mesmo em 2021, com tanta tecnologia, CGI e tudo o mais, ainda há espaço para produções que homenageiem e reverenciem outros tipos de mídia que abriram espaço para chegarmos onde estamos hoje, como é o caso das saudosas radionovelas.
Nota: 8,0
Nossa, parece ser boa, parabens por mais esse texto! Vou colocar na grade.
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