Escrito por: Pedro Rubens
A produção nacional já vem passando por um novo período de retomada, e isso fica evidente pela quantidade de novos conteúdos que estão sendo lançados, explorando novos gêneros, áreas, narrativas e estruturas. Mas para esse renovo, é necessário não apenas paixão pelo que é produzido no Brasil, esse tipo de inovação demanda coragem que conhecimento sobre aquilo que será feito.
Essa intenção de adentrar em novos mundos do audiovisual se faz presente na primeira produção nacional da HBO Max, Os Ausentes, criada por Thiago Luciano e Carolina Fioratti, que optaram narrar uma história utilizando-se da estrutura procedural que já é bastante conhecida de tantas produções estrangeiras, mas tão pouco utilizada aqui no Brasil, afinal somos acostumados com o arquétipo televisivo, a fórmula que as grandes emissoras de TV criaram e culminou em raízes por todo o produto audiovisual brasileiro.
A experiência de Barry Skolnick, consultor da equipe criativa de Os Ausentes, trouxe vida para a série e permitiu que o procedural funcionasse perfeitamente bem através de histórias bem alicerçadas, mesmo que por vezes optasse por escolhas simples e preguiçosas, mas sempre dando espaço para o background advindo da história particular de cada protagonista, narrativas muito bem consolidadas e conscientes de onde querem chegar.
Enquanto a série nos apresenta flashbacks que são muito bem estruturados e encaixados na trama, para contar a história de Raul, muito bem interpretado por Erom Cordeiro, somos também apresentados a Maria Julia, personagem de Maria Flor, uma curiosa jornalista que contrapõe sua história com a do investigador, formando uma dupla aparentemente disfuncional mas que se complementam.
Por outro lado, o drama dos protagonistas é equilibrado pelos personagens de Waldir e Tai, vividos respectivamente por Augusto Madeira e Indira Nascimento, que trazem leveza e cenas de humor nos momentos mais inesperados, que fazem o espectador rir do alívio cômico mas sem tirar o foco da seriedade que a série tenta abordar.
Por mais que o roteiro deixe a desejar em algumas situações, que poderiam ser mais exploradas e aprofundadas, ainda assim há algo belo na pluralidade de histórias apresentadas, traduzindo de forma palpável situações do cotidiano brasileiro como violência familiar, divórcio, imigração, ressocialização de ex detentos, e outros.
A fotografia da série não traz nada de novo: uma película acinzentada, agregando drama para as cenas dos dias atuais, onde os protagonistas precisam viver com os fantasmas do passado e encarar as assombrações daqueles que cruzam seus caminhos em busca de ajuda. Mas muda a coloração para algo mais alegre, ou quente, nos momentos em que traz à tona cenas do passado… Nada de novo, mas nada que seja ruim.
Um ponto um pouco agridoce em Os Ausentes é a direção, que explora bastante dos atores que compõem o elenco regular e os leva a atuações interessantes, mas aparenta não ter dedicado tanto cuidado na atuação do elenco de apoio de cada episódio, por vezes ficando algo tão artificial que você se questiona se realmente teve ensaio e preparação.
O rumo que a série seguiu durante todos os seus 10 episódios é satisfatório dado a perceptível dedicação de todos para fazer uma boa produção e entregar ao público algo que não foge da nossa realidade, mas que torna as múltiplas histórias tão próximas de nós que chegam a ser palpáveis.
Em meio a pequenos furos de roteiro e decisões preguiçosas que seguem caminhando lado a lado com uma boa história e bons protagonistas, Os Ausentes nasce não apenas como a primeira série nacional da HBO Max, mas também vem trazendo novos ventos e prometendo um bom futuro, inovador e corajoso, para a produção audiovisual brasileira.
Nota: 8,1
Estou gostando muito das tramas.
Excelentes atuações e enredos bem desenvolvidos.
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