Escrito por: Pedro Rubens
Esse texto contém spoilers do sexto episódio de Loki!
Por mais de 10 anos a Marvel construiu um império na indústria cinematográfica e mostrou sua capacidade de expandir universos, fundamentá-los e entregar boas cenas de ação, comédia, drama e até a humanidade dos heróis, constantemente presente nas HQ’s. Decidir encarar o gênero televisivo e priorizar a atenção de personagens que mereciam mais espaço nas telonas foi um grande risco que a Casa das Ideias decidiu encarar, e acaba de entregar sua terceira série (até o momento).
A season finale de Loki corrobora a ideia de que a Marvel Studios ainda não sabe o timing para escrever séries de TV, sempre prometendo algo que está por vir, sempre inserindo novas camadas a conceitos já apresentados, aprofundando essa humanidade dos seus personagens, mas deixando o espectador apenas com várias portas abertas para algo que ainda virá.
Isso não é ruim, pelo contrário, isso agrega e muito ao MCU como um todo. Mas levando em consideração que uma parte do público não acompanha as séries, a Marvel aparenta esquecer destes e cria um sólido fundamento, de difícil compreensão, para aqueles que irão apenas ao cinema assistir os filmes na expectativa de ver seus super-heróis favoritos em ação.
Para ser mais claro: o personagem apresentado nesse último episódio, denominado Aquele Que Permanece e vive na Cidadela no Fim dos Tempos, informa que eras atrás, antes da AVT, uma de suas variantes vivia na Terra no século 31. A referência a origem de Kang, O Conquistador nos quadrinhos é nítida, afinal esse é o pseudônimo de Nathaniel Richards, um cientista do século 31 que descobre tecnologias capazes de lhe permitir viajar no tempo.
O que isso tem haver?
O personagem de Kang já foi confirmado como o vilão do próximo filme do Homem-Formiga e a Vespa, mas se o fundamento para a origem do personagem foi dado na série, através de uma de suas variantes, logo, há grandes chances do filme nos entregar um personagem como se todos já o conhecessem.
Por outro lado, a relação entre Loki e Sylvie passa de um simples narcisismo para algo sentimental e (perdão amigos) não faz o menor sentido. A dinâmica dos personagens é interessante, eles formam uma ótima dupla de possíveis vilões, com carisma de mocinho e capazes de bagunçar o MCU como foi visto ao final da temporada, porém, forçar um casal talvez já seja um pouco demais.
Entregar um season finale mais “pé no chão”, se é que pode ser dito isso, foi um grande acerto da Marvel e digno de muitos aplausos, por tentar justificar suas escolhas ao exibir um daqueles episódios políticos e teóricos, com bastante história e o acréscimo de novas perspectivas sobre os protagonistas e antagonistas da série, escancarando as portas para o Multiverso no MCU, possibilitando de uma vez por todas a chegada dos Mutantes, Quarteto Fantástico e até a modificação das histórias que já conhecemos através dos filmes da Marvel, vide o final do episódio e a realidade já alterada.
E que bom que essa foi a escolha narrativa para o último episódio da série, dado que as cenas de luta de toda a temporada eram catastroficamente ruins, dependiam dos cortes de câmera para gerar movimentação e dar ritmo ao que estava acontecendo.
Em contrapartida, não dá pra encerrar as análises de Loki sem falar da trilha sonora, trabalho magnificamente brilhante de Natalie Holt, que deu ainda mais vida a todos os episódios, criando um outro tipo de narrativa musical que funcionava de forma independente e ao mesmo tempo complementar à série.
Se todo o caos instaurado e as múltiplas ramificações temporais geradas deixam o futuro da Marvel completamente em aberto, deixando espaço para a introdução de novos personagens e possíveis retornos daqueles que aparentemente já não estão mais nesse universo, a primeira temporada de Loki serve como exemplo para entender que produções de super-herói não se sustentam apenas com pancadaria e superpoderes, mas mostrando a humanidade que existe em cada um daqueles personagens, e aqui, isso foi muito bem feito.
Nota: 8.5